As Josefinas Colab desenvolve o potencial de mulheres negras e periféricas
Um espaço democrático onde circula e se produz artes, valorize a cultura negra e a ancestralidade. Esta é a definição das Josefinas Colab, uma casa que nasceu com o sonho de uma mulher negra que queria fazer algo por suas iguais. “ Nós mulheres negras, vivemos uma batalha constante no mundo corporativo, seja pela cor da pele, pela distância até o ambiente de trabalho ou pela maternidade”, diz Aira Nascimento, nordestina arretada, carioca de coração, engenheira de produção, consultora em melhoria de processos, poeta e pesquisadora independente de negócios de impacto, mãe do Bento e fundadora do espaço colaborativo.
Aira conta que sua avó materna, dona Josefa Silva do Nascimento, nascida em Natal/ RN, uma típica mulher nordestina forte e matriarca que criou seis filhos de sangue e mais os filhos do coração, sempre através de seu esforço empreendedor, foi a inspiração para o nome do espaço. “Ela sempre me dizia: estude Aira. Se eu soubesse ler e tivesse liberdade que toda mulher deveria ter, ganhava o mundo e faria muita coisa”, lembra Aira com carinho da mulher valente e determinada que faleceu aos 80 anos.
Liberdade do sagrado feminino
E essa é a ideia central das Josefinas: estimular o potencial empreendedor em mulheres negras, mães e periféricas para que migrem do empreendedorismo por sobrevivência para a vivência em plenitude, cuidando da autoestima e de seu estado psicológico. “Minha avó me regou e eu sou semente, e como dizia Carolina Maria de Jesus: Ah, comigo o mundo vai modificar-se. Não gosto do mundo como ele é.”
As Josefinas Colab está localizada na região de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro. “ Queria devolver para a região onde cresci um pouco do que conquistei” diz a mãe do Bento, que atuou por mais de 15 anos como engenheira de produção nas áreas de qualidade e planejamento na indústria de óleo e gás.
“Este é um espaço onde o protagonismo é da mulher, mas todos são bem-vindos”, afirma Aira, que administra o espaço ao lado da mãe Rosimar Nascimento, filha da dona Josefa e tecnóloga têxtil, e de Beá Machado, mãe do Miguel e Head de Comunicação e Social Media das Josefinas.
Quilombo urbano
A casa de dois quartos, com uma área externa de 40 metros, que estava sendo reformada para ser alugada foi transformada em um espaço dedicado à mentoria para negócios de mulheres que estão iniciando. Em funcionamento desde abril deste ano, as Josefinas já atenderam mais de 500 pessoas entre eventos e oficinas, que estão baseadas em três pilares: afroempreendedorismo, desenvolvimento pessoal e cultural.
São realizadas oficinas semanais de empreendedorismo, mentorias e labs com foco no resgate dos valores ancestrais. “ A mentoria é referência entre os nossos griôs nas rodas de conversas com os pretos velhos”, relembra. No espaço as pessoas discutem arte, cultura e finanças e os filhos são sempre bem-vindos. “Também falamos sobre circulação do dinheiro nas periferias, mobilidade urbana e referências ancestrais. Estamos formando um quilombo urbano”, comemora.