Se quando uma mulher preta se movimenta, tudo ao redor dela se mexe, o que acontece quando nove mulheres pretas resolvem se organizar para mudar o cenário de injustiça e desigualdades que vêm ao redor? Nasce o primeiro Fundo para Mulheres Negras do Brasil.
O Fundo Agbara é o resultado do ideal de uma mulher que sonhou com a possibilidade de fomentar outras irmãs para que seus empreendimentos ganhassem força suficiente garantindo o próprio sustento e o da família.
A ideia ganhou força com a chegada de outras mulheres pretas e hoje, já gerou mais de 250 atendimentos e fomentou cerca de 40 mulheres negras empreendedoras da região de Campinas, interior de São Paulo.
Aline Odara, cientista social, pedagoga, professora, mestranda em Educação da UNICAMP e uma das coordenadoras do projeto, já realizava vaquinhas de maneira informal para ajudar amigos e conhecidos que precisavam, especialmente após o advento da pandemia da COVID-19.
“A prática das vaquinhas já era comum em nossa rede de amigos e aconteciam praticamente todos os meses.”
Em setembro de 2020, após ser aprovada em um concurso público, Aline percebeu que aquele movimento poderia se transformar em algo muito maior e convidou a amiga e publicitária Fabiana Aguiar para juntas fundarem o Agbara.
“A ideia então era formalizar essas vaquinhas, para viabilizar contemplações financeiras, assessorias técnicas e formações de mulheres negras empreendedoras.”
Frentes de Atuação
Transferência de renda através de capital semente captado por doações e destinado às mulheres negras e indígenas contempladas;
Assessorias técnicas prestadas às mulheres inscritas. O Agbara possui um banco de cadastro com mais de 40 pessoas inscritas, que se disponibilizaram de forma voluntária a prestar diversos serviços gratuitos às mulheres empreendedoras;
Entre os serviços prestados estão: assessorias para criação de logotipo, criação de marca, plano de negócios, estudo de viabilidade econômica, assessoria técnica em comercialização, entre outras diversas;
Educação – Formações de qualificação profissional e formações políticas de cidadania e direitos humanos.
Potência e Força
Agbara é uma palavra de origem Iorubá que significa potência e força, palavras femininas que sintetizam a energia das fundadoras do projeto.
Atualmente, Iara Teixeira e Mariana Pimentel compõem a coordenação do Fundo Agbara ao lado da Aline e da Fabiana, com mais cinco mobilizadoras: Bruna Zanetti, Carolina Pinho, Eri Sales, Sabrina Savani e Stefany Izidio, colaboram com a consolidação do projeto.
“Todas mulheres negras que residem em Campinas, com exceção da Carol Pinho, que mora em Salvador/BA. Além disso, temos mais de 100 mulheres inscritas em nossa rede, sendo beneficiadas por nossas ações e contamos com uma rede de 250 pessoas que colaboram de maneira fixa todos os meses”
Diz Aline, que como boa filha de Ogum é uma líder nata.
O Agbara acredita que o fomento financeiro é fundamental para que mulheres negras, em meio às suas inúmeras demandas materiais de urgência, encontrem suporte para começar suas atividades.
No entanto, para que o desenvolvimento de seu pequeno negócio ocorra de maneira sustentável, com ações planejadas e ordenadas de longo prazo, se faz imprescindível que essas mulheres disponham de formações capacitadoras e emancipadoras.
Para que dessa forma, elaborem sua marca de forma estratégica e antes disso, para que se compreendam e se afirmem enquanto pessoas que não negociam a sua humanidade, dignas de direitos e acessos, sujeitas de suas histórias que se recusam ao lugar-objeto a nós historicamente atribuído, completamente capazes de criar, planejar e implementar projetos ou qualquer outra ação que desejem desenvolver.
Prática Ancestral
Organizar-se financeiramente para ajudar seus iguais foi uma estratégia amplamente adotada por nossos ancestrais para suportar as atrocidades à que foram submetidos desde que foram sequestrados de África para o Brasil, e o Fundo Agbara nasce com o mesmo DNA.
“O Agbara surge de forma intuitiva e espontânea, mas certamente influenciados por esses saberes ancestrais que carregamos espiritualmente e em nosso DNA ancestral”,
Após a criação do Agbara, as fundadoras buscaram informações sobre a origem dos fundos solidários e logo se depararam com as Irmandades.
“E qual não foi nossa surpresa ao saber que essas organizações se estruturam de maneira parecida ao Agbara! As irmandades foram essenciais para a sobrevivência de milhares de irmãos, não apenas pela possibilidade de compra de alforrias, mas também por ser um espaço de perpetuação de saberes ancestrais e reconhecimento da humanidade de nosso povo! ”
Com uma matriz totalmente proativa e ciente de todo seu potencial, o Fundo Agbara tem formalizado importantes parcerias e acessado editais para ampliar o acesso a recursos que possam potencializar o público beneficiado.
“ Pretendemos ainda este ano ter nossa sede, planejar formações continuadas às mulheres inscritas e expandir o Agbara para mais cidades, atendendo ainda mais mulheres! Nossa missão é que o Agbara se torne um grande e sólido fundo de potencialização de mulheres negras e indígenas de todo o Brasil! ”
Assim como as ações de nossas ancestrais ainda ecoam em nossas memórias, o Fundo Agbara, com certeza é uma iniciativa que chega para deixar sua marca na história do empreendedorismo e autonomia da mulher negra.
Aguardem!!
Para saber mais e colaborar com o Fundo Agbara sigam @fundoagbara.